Exigente, responsável, atrevida e muito feliz. Só quem conhece a professora Dejanir Cunha pode confirmar essas peculiaridades. Querida por todas as pessoas que a conhecem, a professora Dejanir conta emocionada, sua trajetória de vida. Filha de agricultores, nasceu em uma cidade pequena do interior do Paraná. “A minha mãe, que trabalhava na roça, tinha noção de que os filhos precisavam estudar. Meu pai comprou uma casa muito próximo a escolade religiosas e comecei o curso pedagógico.”
Começou no magistério com 20 anos em Coronel Vivida. “Quando iniciei o curso pedagógico, a falta de professor era tão grande que já comecei a dar aula. Era muito interessante, nós dávamos aula e tínhamos uma equipe que preparava tudo. Eu corrigia a prova dos alunos da outra professora e a outra professora corrigia as minhas provas”, relatou a professora. “Terminei o curso pedagógico e casei! Meu marido trabalhava e fomos morar em Pato Branco. E depois nos mudamos para Guarapuava. Em Guarapuava eu fiz faculdade.”
Suas duas filhas mais velhas acompanhavam a mãe e o pai nas batalhas diárias. “Nós tínhamos um Fusquinha, e lá é muito frio, uma das cidades mais frias do Paraná. Ele colocava nossas duas filhas dentro do carro, enchia de cobertor e parava na frente da faculdade onde eu estudava, saia de lá e íamos para casa. Assim eu fiz minha faculdade.” Dona Dejanir, então se graduou em Licenciatura Plena em Português, Inglês e Literatura Portuguesa pela Faculdade Estadual de Guarapuava.
Logo depois, se mudaram para Cabo Frio, no ano de 1982. Foi menos de um mês distribuindo currículo. “O Professor João, diretor do Colégio Araruama, foi para Cabo Frio procurar professor porque na época não havia tantos. Aí disseram: ‘tem um currículo aqui de uma professora que veio do Sul’. Vim pra Araruama e comecei a trabalhar no Colégio Araruama.”
E foi nesse momento que ela se viu vulnerável. “Eu fui uma professora muito responsável. O primeiro ano eu achei difícil porque eu saí de um lugar onde eu tinha uma equipe, e fui para uma escola que tinha que fazer tudo. E eu falava diferente”, se referindo ao seu sotaque paranaense.
Pensou até que seria dispensada, achando que a escola não tinha gostado de seu trabalho. “Chegou final do ano, o professor João fez um jantar lindo. Lá estávamos todos nós, professores. Terminou o jantar, meu marido estava me esperando com as duas meninas para me levar para casa. O professor João começou a falar e eu percebi que era a meu respeito. Eu disse, ‘gente, ele está falando tudo isso para me mandar embora?’” Mas para sua surpresa, ela foi a professora homenageada daquele ano no colégio. “No ano seguinte eu voltei e tomei conta. Foi muito bom! Araruama me
abraçou e hoje eu amo Araruama.”
Ao lado do seu marido, lutou diariamente pelas conquistas familiares e profissionais. Construiu seu lar, conquistou sua casa própria e cuidou dos seus filhos com dignidade apesar de todas as dificuldades. “Eu era muito atrevida. Comprei um terreno. Hoje nós temos muito mais que aquilo. É por isso que eu olho lá trás e vejo como nossa vida realizou, venceu. Nós somos vencedores. A gente realmente lutou e fez.”
Se preocupava com a conduta moral de seus alunos e sempre deu conselhos positivos tanto na vida presente quanto para a vida futura. “Eu dizia para as minhas alunas, principalmente para as mulheres, vocês precisam estudar! Porque quando casarem vão esticar a mão e pedir pro marido ‘me dá um dinheiro pra comprar um batom’ aí ele vai dizer assim ‘te dei dinheiro mês passado e já gastou tudo!” Como ela era sensata com suas alunas.
Por ser muito exigente com seus alunos, ganhou um apelido nada gentil, mas que a professora adorou. “Eu era muito rigorosa e, naquela época, os pais apoiavam o professor. Começaram a me chamar de bruxa. Eles chamavam não era no sentido de xingamento. Quando chegou no dia das bruxas, comprei uma saia preta plissada, do Sul eu trouxe a vassoura de bruxa, coloquei uma blusa preta, chapéu de bruxa e fui para escola. Para quê! Foi uma festa! O que aconteceu foi que todos os anos, no dia das bruxas, os alunos faziam festa para mim”, disse a professora animadíssima com a lembrança.
Sobre sua profissão, ela fala que amava dar aula. “Quando você descobre o que você gosta, você é feliz. Dei aula por 27 anos. A vida me presenteou e agora estou colhendo tudo aquilo que fiz. Tenho três filhos maravilhosos. Olha que presente que Deus me deu: seis netos maravilhosos. Eu sou uma pessoa muito feliz!”
Mesmo com seus 70 anos, Dona Dejanir é muito ocupada. Ela continua trabalhando, agora na Casa de Cultura, e nas horas vagas ela dá aulas de crochê e tricô para outras mulheres. “Eu acho que isso é um sonho também, porque quando você vê uma pessoa que aprende e daquele aprendizado ela tira alguns recursos, é maravilhoso”, contou ela.
E ela não poderia deixar de dar seus conselhos para a mulherada: “Primeiro elas precisam ser mulheres independentes, ‘donas do seu nariz’, que agem quando elas querem para poder realizar os sonhos. Ela não pode ficar presa. Ela precisa ser uma pessoa livre. E correr atrás daquilo que ela quer.”
1 comentário em “Mais que professora, uma mulher que realiza! – Março 20”
Bom dia!
Estudei com Dona Dejanir. Aprendi muito com esta excelente profissional. Tenho imensa admiração por ela. Uma pessoa ímpar.
Lembro que em um ano, passei com a média no limite, então ela me convidou para estudar nas férias de final de ano. Fui estudar e aprendi muito. Sempre se doou a profissão, as pessoas e as suas responsabilidades. Considero Dona Dejanir como uma mãe.